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Finanças corporativas
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O cenário atual de fusões e aquisições (M&A) no Brasil está passando por uma transformação significativa. Os fundos de private equity — que tradicionalmente lideram parte considerável dessas transações — vêm adotando uma postura mais cautelosa diante de um ambiente macroeconômico incerto e da elevação dos juros no mercado local. Isso tem aberto espaço para que empresas com estratégias de longo prazo avancem nas negociações.
Segundo a 3ª edição da pesquisa anual da consultoria financeira Condere, 46% dos gestores de fundos afirmaram que pretendem aumentar os investimentos em 2025. Esse número é bem inferior aos 64% registrados no ano anterior. Em contrapartida, 33% indicaram que irão reduzir os aportes — o maior percentual desde o início da série histórica.
Na prática, essa mudança de comportamento já é perceptível. A participação dos fundos nas transações monitoradas pela Condere caiu para cerca de 20%, contra a média anterior de 30%. “Quem está puxando o mercado agora são as empresas estratégicas”, afirma Paulo Cury, sócio-fundador da Condere. Entre essas, destacam-se grupos internacionais — como os chineses — que voltaram a buscar oportunidades no Brasil.
A seletividade dos fundos aumentou de forma considerável. Os gestores preferem investir em setores que já conhecem bem, com menor risco de exposição a variáveis externas ou a negócios pouco estruturados. Os segmentos de tecnologia e saúde continuam sendo os mais atrativos, com o setor financeiro retomando algum protagonismo após um período de menor interesse.
O principal fator que inibe os aportes é a taxa de juros local, apontada como um entrave por 96% dos fundos — um salto expressivo frente aos 79% registrados dois anos atrás. Com o custo de capital elevado, operações alavancadas se tornam menos viáveis, especialmente em empresas com balanço financeiro comprometido. Por isso, a estrutura de capital das investidas ganhou ainda mais peso na tomada de decisão: foi considerada determinante por 25% dos fundos, contra 14% em 2024 e apenas 5% em 2023.
Outro fator de destaque nesta edição da pesquisa é a geopolítica internacional. Pela primeira vez, 25% dos respondentes citaram riscos externos — como a instabilidade provocada por guerras comerciais — como um fator relevante na definição dos investimentos. A volatilidade global contribuiu para que nenhum fundo manifestasse intenção de internacionalizar seus negócios neste ano.
Além do momento de entrada, os fundos estão cada vez mais atentos às condições de saída. O tamanho das transações e a taxa de crescimento das empresas são fatores decisivos que podem levar à desistência de um M&A. A incerteza sobre o retorno do investimento, especialmente em um ambiente volátil e com juros altos, exige uma análise mais rígida sobre o potencial de valorização das empresas-alvo.
Fundos estão recuando: Com os juros altos e o cenário externo instável, os investidores estão mais seletivos e dispostos a investir apenas em setores e empresas mais seguros.
Empresas estratégicas ganham espaço: Grupos com visão de longo prazo — inclusive estrangeiros — estão aproveitando o momento para fazer aquisições, já que enfrentam menos concorrência dos fundos.
Decisão de investimento está mais técnica: O custo do capital e a estrutura financeira das empresas são agora critérios determinantes. Fundos evitam negócios com dívidas altas e buscam crescimento previsível.
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O SNEL11, fundo imobiliário de energia solar da Suno Asset, mudou de rota e está investindo em usinas já prontas. Em sua mais recente movimentação, o fundo desembolsou R$ 123 milhões para adquirir cinco novas plantas solares localizadas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Com isso, a capacidade instalada do fundo sobe de 39 MWp para cerca de 63 MWp.
A mudança de estratégia é uma resposta ao cenário de juros altos, que reduziu os preços de ativos já em operação. Antes, a Suno optava por projetos ainda em desenvolvimento, assumindo os riscos da construção. Agora, vê maior vantagem em comprar ativos prontos, com menos risco e retorno ainda atrativo.
“O objetivo é reduzir o risco sem comprometer a rentabilidade”, explica Vitor Duarte, CIO da Suno Asset. A meta é entregar uma TIR (Taxa Interna de Retorno) real de 15%, com dividend yield anualizado atual de 14,68%.
Além de crescer em capacidade, o fundo amplia sua presença geográfica. Com essa aquisição, passa a atuar também no Rio de Janeiro — onde as tarifas de energia estão entre as mais altas do país — e São Paulo, que oferece baixa vacância e forte demanda. O fundo já estava presente em Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Goiás.
A operação foi viabilizada por uma captação recente de R$ 166 milhões, sendo que R$ 70 milhões vieram dos próprios vendedores dos ativos, que aceitaram trocar suas participações por cotas do fundo — modelo que a gestora pretende repetir em futuras negociações.
A meta é alcançar 100 MWp de capacidade ainda em 2025, com R$ 300 milhões em aquisições, e dobrar esse valor até o fim de 2026, o que exigirá R$ 400 milhões adicionais.
Mudança na estratégia de investimento: A Suno deixou de investir em projetos em construção e passou a comprar usinas prontas, aproveitando os preços mais baixos causados pelos juros altos — menos risco e retorno rápido.
Crescimento com diversificação regional: O fundo está ampliando sua presença em estados estratégicos, como RJ e SP, equilibrando risco de vacância com demanda elevada e tarifas altas.
Crescimento financiado por captação e trocas inteligentes: Parte do investimento veio de uma oferta recente, e outra parte de acordos nos quais os vendedores dos ativos viraram cotistas — modelo que reduz desembolso e fortalece o fundo.
O Grupo Grão de Ouro, fundado nos anos 1990 em Alfenas (MG), é um exemplo de empresa familiar do agronegócio que virou gigante. Com atuação hoje em 17 estados brasileiros, o conglomerado opera nas áreas de comércio de grãos, maquinário agrícola, produção de rações, armazenagem e agropecuária. A projeção da empresa é atingir R$ 2,1 bilhões em faturamento em 2025, superando os R$ 1,7 bilhões do ano anterior.
Inicialmente focado em armazenagem e comercialização de milho, o grupo foi se expandindo gradualmente. Um dos marcos foi a entrada no setor de concessionárias agrícolas, com a marca New Holland, que hoje já conta com nove lojas e figura entre as cinco maiores redes da marca no Brasil. A operação começou em 2016 no Tocantins e se espalhou pelo Maranhão e Pará — onde foi recentemente inaugurada uma nova filial em Santana do Araguaia.
Outra frente importante é o comércio de grãos como milho, soja, sorgo e aveia, com expectativa de 720 mil toneladas transacionadas em 2025. A operação de rações também cresceu com aquisições e novas fábricas em MG, SP e RJ, atingindo uma produção de 100 mil toneladas por ano com as marcas Nutrividas e Nutrimax.
O grupo já vendeu parte de suas operações no passado — como sua rede de insumos agrícolas, comprada em 2018 pela gestora Aqua Capital em uma operação que integrou o grupo AgroGalaxy, com outros ativos do setor. O capital dessa venda foi reinvestido nos ramos que hoje sustentam o crescimento da empresa.
Mesmo mantendo o controle familiar, a Grão de Ouro implantou um conselho consultivo com membros externos, reforçando a profissionalização e governança. Para os próximos anos, além da expansão nas frentes já consolidadas, o grupo considera entrar no mercado de sementes com a futura Interlagos Sementes — embora sem planos de torná-la uma frente principal.
Crescimento com base em diversificação: O grupo expandiu com estratégia: começou no milho, entrou em ração, grãos, maquinário e agropecuária — crescendo em diferentes frentes, mas sempre dentro do agro.
Vendas estratégicas financiaram expansão: A venda da rede de insumos deu fôlego financeiro para investir em áreas mais promissoras e com maior controle, como as fábricas de ração e a rede de concessionárias.
Profissionalização sem perder raízes familiares: Mesmo sendo uma empresa familiar, o grupo investiu em governança com membros externos, reforçando a estrutura para sustentar um crescimento robusto e contínuo.
A companhia aérea Azul concluiu uma etapa importante do seu processo de reestruturação financeira ao levantar R$ 1,66 bilhão em sua oferta primária de ações preferenciais. A operação, que estava alinhada previamente com seus credores, representa um passo relevante para a readequação do balanço da empresa e fortalece as bases para possíveis movimentos estratégicos, como uma eventual fusão com a Gol.
No total, a Azul emitiu cerca de 464 milhões de ações, ao preço de R$ 3,58 cada — valor definido anteriormente no acordo com os credores. Como parte desse mesmo acordo, cada ação emitida foi acompanhada de bônus de subscrição, que conferem aos investidores o direito de comprar ações adicionais no futuro, reforçando o potencial de capitalização futura.
Apesar da expectativa inicial da companhia de que a operação pudesse resultar em uma captação ainda maior, com um aumento de até 155% no volume emitido — o que poderia render mais de R$ 4 bilhões — o adicional efetivado ficou muito abaixo do previsto: apenas 3% acima da base, o que corresponde à emissão de cerca de 13,5 milhões de ações e um ingresso extra de R$ 48 milhões.
Com isso, a maior parte dos recursos levantados corresponde à conversão de dívida em capital social, e não houve reforço relevante de caixa imediato. A estratégia, portanto, foi voltada para a reestruturação do passivo e melhoria dos indicadores financeiros da Azul, reduzindo o peso da dívida em seu balanço.
Este movimento é fundamental para que a companhia se torne mais competitiva e preparada para futuras consolidações no setor aéreo. As conversas com a Gol sobre uma possível fusão já estão em andamento e devem se intensificar nos próximos meses, dependendo da evolução dos respectivos processos de reestruturação e da aprovação de órgãos reguladores.
Reestruturação em primeiro lugar: A Azul usou a emissão para transformar dívida em ações, reduzindo o endividamento, mas sem captar muito dinheiro novo.
Expectativa de captação maior ficou aquém: A companhia esperava uma demanda maior pela oferta, mas o lote adicional vendido foi pequeno, frustrando a possibilidade de um reforço robusto no caixa.
Preparo para consolidação do mercado: A melhora na estrutura financeira deixa a Azul em posição mais sólida para negociar uma fusão estratégica com a Gol, o que poderá redesenhar o setor aéreo brasileiro.
A Minerva Foods, uma das líderes na exportação de carne bovina na América do Sul, concluiu com sucesso uma nova emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), captando R$ 2,25 bilhões. O valor superou a expectativa inicial da companhia, que era de R$ 2 bilhões, evidenciando o forte apetite do mercado por ativos do agronegócio e pela emissão da empresa especificamente.
A operação é parte da estratégia da Minerva para alongar o perfil de sua dívida e reduzir o custo de capital. A captação foi dividida em cinco séries, com três delas oferecendo taxas de juros prefixadas entre 15,7% e 15,9% ao ano. Apesar disso, a empresa optou por realizar operações de swap para CDI, ajustando o retorno efetivo aos investidores para 0,4%, 0,5% e 0,85% acima da taxa do Tesouro — um modelo que oferece previsibilidade à companhia e retorno atrativo para o mercado.
A captação é significativa não apenas pelo volume levantado, mas também por vir em um momento estratégico, no qual a empresa busca reforçar sua estrutura de capital. Paralelamente à emissão dos CRAs, a Minerva também anunciou um aumento de capital privado, o que demonstra seu compromisso com uma gestão financeira sólida e sustentável.
Os recursos captados serão utilizados para refinanciamento de passivos, gestão do fluxo de caixa e apoio às operações da companhia, que possui presença em diversos países da América do Sul, além de canais robustos de exportação para mercados como China, EUA e Oriente Médio.
Essa movimentação faz parte de um plano maior da companhia de preparar-se para oportunidades de crescimento, inclusive por meio de aquisições ou expansão de capacidade produtiva, mantendo o equilíbrio financeiro.
Captação expressiva com forte demanda do mercado: A Minerva pretendia captar R$ 2 bilhões, mas recebeu tamanho interesse de investidores que a emissão final chegou a R$ 2,25 bilhões — um sinal de credibilidade da empresa e do apetite por ativos do agro.
Modelagem financeira inteligente e atrativa: Embora as taxas fossem prefixadas, a companhia usou instrumentos financeiros (swap) para convertê-las em CDI, equilibrando risco e retorno — o investidor continua recebendo um bom prêmio acima da taxa básica.
Movimento estratégico para crescer com saúde financeira: A empresa melhora seu perfil de endividamento e ganha fôlego para investir ou aproveitar oportunidades, sem depender de financiamentos mais caros no futuro.
Sem conseguir acordo na mediação com os credores, a 2W Ecobank pediu recuperação judicial para suspender a cobrança de uma dívida de R$ 2,4 bilhões por 180 dias. A medida abrange tanto a geradora quanto a comercializadora de energia do grupo.
Em 2023, a empresa já havia tentado suspender temporariamente as cobranças e propôs um plano de recuperação extrajudicial, que não avançou principalmente devido à resistência de credores como o Credit Suisse (hoje UBS). O banco, que intermediou a venda de debêntures da 2W para cerca de 400 investidores, antecipou o vencimento da dívida de R$ 585 milhões.
Outros credores, como BTG, Sumitomo e Santander, também entraram na lista após cobrirem fianças bancárias ligadas ao projeto eólico Kairós, que soma R$ 461 milhões. O ativo já foi transferido a um fundo de private equity como parte de uma reestruturação.
O projeto Anemus, também eólico e localizado no Rio Grande do Norte, teve antecipação de dívida de R$ 620 milhões, com garantias dos mesmos bancos. Além disso, a empresa tem mais R$ 300 milhões em debêntures distribuídas no mercado.
A 2W aponta como causas da crise os atrasos nas obras dos parques eólicos, provocados pela falência da construtora Allonda Energia, e o aumento do preço da energia no mercado, que obrigou a empresa a comprar energia para honrar contratos. A situação se agravou com a reclassificação da companhia pela CCEE, que limitou sua operação e causou a perda de clientes.
Agora, a empresa afirma não ter recursos para concluir os projetos nem para pagar fornecedores e solicita que a CCEE seja impedida de desligar suas subsidiárias do mercado.
Recuperação judicial é o último recurso: A 2W pediu ajuda da Justiça para ganhar tempo (180 dias) e tentar reorganizar sua situação financeira. Antes disso, tentou acordos diretos com credores, sem sucesso.
Projetos eólicos travados: Os dois principais projetos da empresa, Kairós e Anemus, enfrentaram atrasos por causa da falência da construtora responsável. Isso aumentou custos e comprometeu os prazos.
Problemas em cadeia: Com obras atrasadas e sem geração de receita suficiente, a 2W teve que comprar energia mais cara no mercado e ainda foi rebaixada pela CCEE, o que prejudicou sua imagem e operação.
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